quinta-feira, 20 de março de 2014

O Valor Simbólico da Recreação para Crianças Surdas no Ensino Fundamental Regular

Autor: Maria Mirtes de Sousa Silva e José Francisco de Sousa
Data: 22/04/2010
Resumo: Este trabalho tem como objetivo verificar como acontece a interação das crianças surdas com as crianças ouvintes e entre si durante o recreio, observando como estabelecem os diferentes tipos de comunicação na brincadeira, entendendo porque muitas crianças ficam isoladas, preferindo não interagir com os colegas. Assim esse trabalho pretende colaborar com os profissionais de educação para que tenham uma visão diferente da inclusão na escola, pois incluir não é apenas inserir alunos com necessidades especiais, mas é preciso verificar como é feito esse atendimento observando se realmente existe interação desses alunos com o meio, e se essa inclusão contribuirá para uma educação eficaz para os alunos com necessidades especiais auditivas.
1- INTRODUÇÃOO presente trabalho teve como objetivo conhecer mais sobre a comunidade surda inserida no ensino regular, verificando como acontece a interação social dos alunos com necessidades especiais auditivas. Observando as diferentes formas de comunicação utilizadas pelas crianças surdas e ouvintes durante o recreio das escolas Classe e Parque.
Assim esse trabalho teve início com uma investigação realizada durante o recreio dos alunos surdos e ouvintes, em duas escolas da rede pública do Distrito Federal, sendo a Escola Classe que atende alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental e uma Escola Parque que foi um projeto realizado por Anísio Teixeira um importante educador brasileiro, com o objetivo de ampliar os conhecimentos dos alunos na qual os professores procuram trabalhar de forma interdisciplinar.
Este estudo partiu do princípio que muitas escolas estão incluindo os alunos com necessidades especiais, mas é preciso que as instituições de ensino verifiquem como essas crianças estão sendo acolhidas, e principalmente aguçar a visão em relação ao lado social deles. Sendo necessário que a escola incentive e promova a interação dos alunos com o propósito de garantir uma aprendizagem de qualidade e que as crianças com necessidades especiais auditivas possam participar da sociedade ativamente.
O trabalho verificou como as relações interpessoais acontecem no espaço recreativo, entre as crianças ouvintes e surdas e também a relação entre as surdas, pois é nesse contexto que as crianças interagem espontaneamente por meio de brincadeiras utilizando diferentes formas de comunicação.
Ao conhecer como interagem as crianças surdas, fica mais fácil dialogar com elas respeitando suas necessidades especiais. E aos profissionais da educação cabe investir numa formação continuada, buscando uma capacitação adequada para trabalhar com todas as crianças. Cabendo à escola proporcionar um ambiente que favoreça um aprendizado significativo, sem excluir nenhuma criança tendo ou não necessidades especiais.
Assim esta investigação partiu da vontade de conhecer esse mundo tão diversificado que é a inclusão dos surdos, procurando analisar como a sociedade e a escola em particular, se preparam para auxiliar os alunos com suas especificidades. O primeiro passo da escola é procurar respeitar a diversidade, dando a chance de todas as crianças aprenderem e progredirem em seus estudos de acordo com suas limitações.
2- O DESAFIO DA INCLUSÃO DOS SURDOS NO ENSINO REGULAR NO DISTRITO FEDERAL.
O desafio da inclusão dentro das escolas regulares vem colaborar para que os alunos com necessidades especiais possam ser valorizados e seu desenvolvimento seja integral. Nesse sentido, cabe as instituições educacionais oferecer um ensino de qualidade para que a aprendizagem desses alunos seja significativa e sem obstáculos.
Atualmente a intenção das escolas é incluir todos os alunos, independente de ter ou não algum tipo de necessidade especial. Segundo o documento Declaração de Salamanca (1994), as crianças que são excluídas da escola por motivos como trabalho infantil, abuso sexual ou que são portadoras de deficiências graves devem ser atendidas no mesmo ambiente que todas as demais. Reforça ainda que as instituições de ensino deveriam levar em conta as diferenças individuais dos alunos garantindo assim, uma educação de qualidade independente do aluno ter ou não necessidades especiais.
Na década de 1990, as pessoas com necessidades especiais eram discriminadas e excluídas, não participando ativamente da sociedade. Mas atualmente essa realidade já está mudando, pois essas pessoas já estudam e trabalham buscando uma forma de viverem com dignidade e respeito. No contexto escolar é necessário um olhar diferente para os alunos que apresentam alguma necessidade especial, procurando apoiá-los e motivando sua participação na sociedade para que progridam sem medo da exclusão.
De acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) 9394/96 para uma educação de qualidade é dever do Estado oferecer um ensino gratuito, obrigatório com características e modalidades adequadas às suas necessidades, garantindo condições de acesso e permanência  na escola e esses alunos devem receber atendimento em classes, escolas ou serviços especializados caso não seja possível sua integração nas classes de ensino regular. Nesse sentido a escola deve estar preparada para receber esses alunos se com o ensino para fazer diferença na vida dessas crianças inseridas nas escolas regulares.
Segundo a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação nenhuma escola pode excluir um aluno alegando não saber atuar com ele ou não ter professores capacitados. Assim toda escola (regular ou especial) deve organizar-se para oferecer uma educação de qualidade para todos.
Desse modo, uma escola preparada e com professores capacitados para trabalhar com a inclusão em sala de aula é de suma importância porque contribuirá para o desenvolvimento desses alunos surdos que, sendo incluídos precisam de apoio da toda a comunidade escolar.
No tocante a inclusão Spinelli (1983), comenta que inserir o aluno com deficiência auditiva em escolas regulares é vantajoso, pois ele recebe uma grande quantidade de fala normal, sendo forçado a utilizá-la. Já as desvantagens dessa inclusão são as frustrações que esse aluno terá em comunidade e na aprendizagem que podem prejudicá-lo.
Dentro dessa perspectiva educacional incluir esses alunos com necessidades especiais no ensino regular, pode colaborar com sua aprendizagem valorizando cada indivíduo com suas especificidades. Oportunizando ao aluno com surdez estudar, aprender, crescer e exercer a sua cidadania que lhe é de direito, e para que possa ser visto pela sociedade como sujeito pensante, capaz e único. Diante dessa inquietação que é a inclusão Sacks (1990), expõe que seria preciso que existisse um mundo em que ser surdo não importasse e que desfrutassem a plena realização e integração, não sendo vistos como surdos ou deficientes.
Para que a inclusão seja uma realidade na vida de todos esses alunos é necessário que a escola esteja preparada para recebê-los e principalmente aceitá-los com suas diferenças. Diante disso, respeitar esses alunos com necessidades especiais é fundamental para sua formação, cabendo a escola e a sociedade proporcionarem sua integração para que possam viver sem medo de serem excluídos. No próximo tópico será abordado como os surdos utilizam a LIBRAS para se comunicar com os colegas ouvintes.
3-   ADAPTAÇÃO E A SOCIALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS SURDAS E OUVINTES DURANTE O RECREIO NAS ESCOLAS CLASSE E PARQUE DO DISTRITO FEDERAL.
 De acordo com o Ministério da Educação em 24 de abril de 2002, a Lei Nº 10.436 referente a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) foi sancionada pelo presidente da época, Fernando Henrique Cardoso, que reconheceu a LIBRAS como meio legal de comunicação e expressão. Este acontecimento foi muito importante para a comunidade surda que batalhou por esta conquista, sendo importante também para os ouvintes, pois terão um maior contato com os deficientes auditivos.
Segundo o site  www.planalto.gov.br normalmente os surdos se comunicam por meio de sinais, uma língua visual espacial com toda uma estrutura gramatical e regras diferenciadas da Língua Portuguesa. Essa comunicação em sinais acontece com a utilização das mãos, das expressões faciais que ajudam na interpretação do significado para os colegas ouvintes, bem como os movimentos do corpo. Utilizam também o alfabeto manual que serve para expressar nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem sinais.
Durante muito tempo os surdos foram vistos como pessoas incapazes de aprender, por isso não iam à escola e ainda eram proibidos de utilizarem os sinais para se comunicarem, porém atualmente as instituições de ensino já permitem que essas crianças com surdez utilizem a LIBRAS e também façam a leitura labial para uma possível comunicação com os ouvintes.
Essa comunicação aparece em todos os espaços da escola e não seria diferente na hora do recreio, pois durante as brincadeiras livres as crianças se tornam totalmente espontâneas, brincando sem obrigação e sem serem forçadas a utilizarem os sinais ou a oralidade para interagir com seus amigos sendo, portanto, uma relação em que os próprios envolvidos no brincar estabelecem para se comunicarem.
Ampliando essa visão Kishimoto (2003), Silva (2002) e Winnicott ( 1973) apontam que o brincar da criança é importante para o seu desenvolvimento, mas que durante a brincadeira ela não tem preocupação na aquisição de conhecimento ou desenvolvimento de qualquer habilidade mental ou física dessa forma, brincando livremente ela se satisfaz e demonstra por meio de um sorriso.
Portanto é no brincar que a criança pode encontrar com mais facilidade soluções para as dificuldades durante as brincadeiras desenvolvidas com seus colegas ouvintes, mas para que a escola possa integrar esses alunos com necessidades especiais auditivas tendem a se isolar, é necessário uma abordagem comunicativa para que uma vez envolvida com essas crianças possa auxiliá-los nessa integração.
Dentro da perspectiva de Edler Carvalho (1999) e Quadros (1997), a escola é um ambiente favorável para ampliar as relações interpessoais, sendo preciso que estas instituições levem em conta o contexto socioeconômico dos alunos. Ainda segundo as autoras,  no brincar a criança faz suas representações simbólicas da realidade representando de acordo com suas experiências vivenciadas em seu cotidiano.
Nos escritos de Aberastury (1992) pode-se encontrar várias contribuições em relação ao brincar da criança. A autora afirma que:
"A criança que brinca investiga e precisa ter uma experiência total que deve ser respeitada. Seu mundo é rico e, em contínua mudança, inclui um intercambio permanente entre a fantasia e a realidade. Se um adulto interfere e irrompe em sua atividade lúdica, pode perturbar o desenvolvimento da experiência decisiva que a criança realiza ao brincar". (ABERASTURY, 1992. Pg 55)

O brincar da criança é importante para seu desenvolvimento afetivo e cognitivo, auxiliando na socialização com outras crianças. Nas escolas isso não é diferente, as crianças brincam durante o recreio sem a necessidade de um adulto para orientar nas brincadeiras livres, pois é o momento de interação só dos alunos.
4- A RECREAÇÃO NA ESCOLA CLASSE E NA ESCOLA PARQUE DO PLANO PILOTO PARA CRIANÇAS SURDAS E OUVINTES INSERIDAS NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO DISTRITO FEDERAL.
Esse trabalho foi desenvolvido em duas instituições da rede pública que pertencem à Secretaria de Educação do Distrito Federal, realizado por meio de observações durante o recreio dos alunos. A Escola Classe observada tem uma área de 1.174.42m2 e existe desde 1962, sendo uma construção realizada pelo Banco do Brasil com o objetivo de garantir a todos os moradores condições de viverem plenamente a cidadania.
Atende as modalidades de ensino da 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, com um quadro de 26 professores e com 300 alunos, sendo dividida em classe comum, classe especial e classe bilíngüe, seu horário de atendimento é das 07h15min às 12h15min no período matutino e das 13h15min às 18h15min no período vespertino. Sua clientela é diversificada, se originando de várias regiões administrativas: Guará, Cruzeiro, Octogonal, Taguatinga, Ceilândia, Valparaíso, entre outras. Mas um pequeno percentual reside nas proximidades da quadra da escola que são os filhos de funcionários públicos, empregadas domésticas, porteiros e militares, e por ser uma escola inclusiva atende também alunos com necessidades educacionais especiais fora da faixa etária.
Segundo a proposta pedagógica a escola se compromete com a comunidade, possibilitando o sucesso escolar dos alunos no prazo estabelecido, desenvolvendo nos discentes a consciência crítica, ética e criativa.
A outra instituição na qual foi realizada a observação dos alunos no recreio foi a Escola Parque, inaugurada em 21 de Abril de 1977. Atende alunos oriundos de diversas cidades do Distrito Federal no turno vespertino e matutino, recebe alunos nos horários contrários que estudam na Escola Classe. Funciona das 8:00 ás 17:20, possui 2650 alunos, 40 professores divididos nos dois horários, esta situada numa área nobre de Brasília e tem como metas erradicar a evasão escolar, atender 100% os alunos com necessidades especiais e reduzir o índice de reprovação.
A Escola Parque foi um projeto idealizado por Anísio Teixeira, um grande educador brasileiro, que tinha como objetivo para essas escolas uma educação integral visando ampliar a matriz curricular das escolas classes, de acordo com a Secretaria de Educação do Distrito Federal existem cinco escolas parques em Brasília, tendo como foco principal ampliar os conhecimentos dos alunos e prepará-los para o mundo, ensinando diferentes atividades que podem ajudar no seu desenvolvimento. Atende alunos inseridos nos anos iniciais e finais do ensino fundamental e alunos com necessidades especiais que são aquelas crianças que apresentam algumas limitações em comparação com os demais alunos.
Essas escolas foram escolhidas por serem inclusivas e por apresentarem de acordo com sua proposta pedagógica um ensino de qualidade para todos os alunos, promovendo seu desenvolvimento integral capacitando um aluno que seja o sujeito da sua própria aprendizagem. Desta forma a escola visa formar um individuo respeitoso, solidário, digno, justo, responsável e honesto para atuar na sociedade. Outro ponto relevante dessa instituição é o ensino interdisciplinar, oferecido para os alunos, onde os conteúdos das disciplinas são trabalhados de forma que esses tenham um conhecimento amplo, favorecendo o ensino integral para que esse seja adquirido possa ser utilizado em seu cotidiano.
Na Escola Parque foi determinado pelos professores e direção que os alunos com necessidades especiais seriam atendidos nas quintas feiras sendo exclusivamente para reforçar a matriz curricular da Escola Classe, no qual os alunos vão uma vez por semana em períodos contrários ao que estudam e segundo uma professora intérprete, nesse dia tem aproximadamente 20 surdos separados em várias turmas.
Os alunos observados tinham aula de teatro onde aprendem a fazer peças e apresentações para os colegas e a comunidade, no ensino da música eles juntamente com os professores aprendem a cantar e reconhecer as notas musicais nas canções, já nas artes aprendem a se expressarem por meio dos desenhos e pinturas, na educação física os alunos aprendem o valor do exercício físico para obter uma boa saúde, todas as aulas tem aproximadamente 50 minutos cada, e ao final os professores ficam na sala esperando as próximas turmas para desenvolver as mesmas atividades propostas às outras turmas.
Assim para a realização desse trabalho foram realizadas várias visitas nessas escolas nos períodos manhã e tarde, em dias alternados para poder verificar a brincadeira das crianças surdas e as ouvintes e quais as brincadeiras desenvolvidas no recreio. Para esse trabalho foram observados alunos na faixa etária de 6 a 19 anos, inseridos no ensino regular cursando as séries iniciais e finais do Ensino fundamental.
Referente ao material utilizado para fazer as anotações foram utilizadas fichas de registro, conversas informais com alguns familiares, professores e alunos com a intenção de obter informações sobre a interação entre crianças surdas e ouvintes inseridas no ensino regular.
O foco dessa pesquisa é analisar as crianças entre 8 a 15 anos, de acordo com as tabelas 1 e 2 abaixo é possível verificar quais as brincadeiras as crianças realizaram durante o recreio e respectivamente idades.
Tabela 1 ? Escola Classe, crianças entre 8 a 15 anos de idade:
Brincadeiras
Idade das crianças
Correr8 a 9 anos
Dançar8 a 9 anos
Futebol10 a 12 anos
Basquete10 a 12 anos
Pebolim10 a 12 anos
Ping- Pong10 a 12 anos
Pique Esconde8 a 9 anos
Pular Corda8 a 9 anos
Nenhuma brincadeira13 a 15 anos

 Tabela 2 -  Escola Parque, crianças entre 8 a 15 anos de idade:
Brincadeiras
Idade das crianças
Correr8 a 9 anos
Futebol10 a 12 anos
Queimada10 a 12 anos
Volei10 a 12 anos
Nenhuma brincadeira13 a 15 anos
Em relação às brincadeiras desenvolvidas pelas crianças nas duas escolas, elas aconteceram de forma diferente mesmo sendo na hora do recreio, os alunos não interagiram da mesma forma.
Pode-se notar que os alunos entre 8 a 9 anos brincam de correr, dançar, pique - esconde,  e pular corda, sendo que durante o recreio apenas as meninas dançavam as músicas infantis colocadas pela direção ou monitoras da escola. Os entre 10 a 12 anos brincam de futebol e basquete sendo apenas os meninos, e as brincadeiras pebolim e ping-pong os meninos e as meninas se divertiam juntos, já os alunos entre 13 a 15 anos que eram surdos não interagiam no recreio durante as brincadeiras, pois segundo esses alunos são grandes demais e podem machucar os menores. Todos os recursos colocados a disposição dos alunos eram fornecidos pela escola todos os dias para as crianças se divertirem, utilizavam as bolas, mesas, cordas, músicas eram com o auxilio de os alunos preferem as atividades de correr, esconde-esconde e todo material pedagógico colocado a disposição dos alunos na hora do recreio.
Esses brinquedos segundo a direção favorecem durante a interação dos alunos com necessidades especiais auditivas com os ouvintes. Durante as brincadeiras a escola confeccionou crachás para pendurar no pescoço das crianças, para que todos os alunos pudessem brincar com todos os recursos, e só quem estava com o crachá poderia jogar e as crianças iam revezando para que todos os colegas pudessem jogar também, servindo para uma certa organização naquele momento.
Na Escola Classe foi observado que na hora do recreio não existia interferência de nenhum adulto nas brincadeiras, a não ser a presença de duas monitoras com a função de olhar os alunos, procurando evitar algum acidente. Existem 4 monitores de manhã e mais 4 à tarde, todos sem curso de LIBRAS. Sendo questionadas sobre o curso, disseram que não tiveram tempo e que só os intérpretes que atuam em sala de aula possuem o curso.
A escola não tem nenhum projeto para esses monitores, sendo que sua colaboração é importante não só para evitar acidentes com os alunos, mas poderiam colaborar com brincadeiras e jogos evitando assim um desgaste para ambos os lados. Mesmo sabendo que o recreio serve para a criança ficar a vontade conversando e brincando com os colegas, pois é na brincadeira sem intervenção que pode acontecer os acidentes. Na verdade não é interferir nas brincadeiras, mas procurar dirigir as brincadeiras oferecendo mais recursos na hora do recreio.
Essa observação teve como objetivo verificar como os alunos da Escola Classe entre 8 a 15 anos se comportavam durante as brincadeiras no recreio em atividades diferentes, em ambientes diferentes e com outros professores, verificando a interação entre crianças surdas e ouvintes em outros locais. Foi notado nessa escola que muitas crianças surdas ficavam paradas sem interação com os colegas ouvintes, e quando brincavam quem estipulavam as regras eram as crianças ouvintes e os surdos normalmente aceitavam, e acabavam terminando as brincadeiras se isolando dos demais.
Durante as observações nessa escola, foi fácil perceber que as crianças surdas interagiam com os ouvintes de forma natural, mesmo tendo uma diferença de faixa etária entre os alunos eles conseguiam manter um diálogo. Na hora do recreio e do lanche os alunos formavam seus grupos de amigos para brincar sem separar surdos de ouvintes.
As brincadeiras eram realizadas em vários espaços da escola, sendo que os alunos ficavam andando, correndo, conversando e o único recurso utilizado para brincar foi uma bola trazida de casa pelos alunos, não foi notado nenhum outro recurso.
Percebe-se que na tabela 2 da Escola Parque sendo uma instituição voltada para a prática de esportes, como outras atividades diferentes em prol de uma aprendizagem significativa. Como os alunos precisam cuidar dos recursos como bola, rede, corda, jogos pedagógicos para as próximas aulas, a escola não os libera na hora do recreio que é a mesma hora do lanche. Nas observações foram notadas diferentes brincadeiras, de acordo com a tabela 2 pode-se verificar como as crianças surdas e ouvintes se dividiam na hora do recreio.
De acordo com essa tabela é possível verificar que os alunos entre 8 a 9 anos preferem brincadeiras de correr, de 10 a 12 jogar queimada e vôlei, sendo que apenas no futebol os meninos brincaram sozinhos. Já as crianças entre 13 a 15 anos não brincaram, sendo meninos e meninas, e estas eram surdas.
Durante as brincadeiras desenvolvidas no recreio, os alunos utilizaram as duas línguas, os sinais e a oralidade para se comunicar com os colegas ouvintes e surdos, mesmo não havendo um total entendimento da língua as crianças brincavam, mas não ficavam brincando por muito tempo, acabavam inventando outras brincadeiras onde todos entendessem.
No recreio muitos funcionários utilizavam alguns sinais de LIBRAS com os alunos surdos para manter uma comunicação eficaz onde fosse possível um entendimento. Mesmo havendo uma distância entre essas comunicações ficou visível que é preciso a escola investir mais na educação inclusiva, pois não basta só incluir, é preciso valorizar a diferença e o potencial desses alunos para que possam ser estimulados a participarem sem serem vistos como pessoas incapazes, como eram no passado.
CONCLUSÃO
Conclui-se que durante as observações realizadas nas duas escolas Classe e Parque do Distrito Federal, foi notado que a interação entre crianças surdas e ouvintes e entre surdas e surdas, aconteceu de forma espontânea, mas durante as brincadeiras permaneciam pouco tempo juntas.
Para que essa interação venha a acontecer de forma natural, é necessário que a escola busque alternativas para melhor receber e atender os alunos com necessidades especiais independente da sua gravidade, pois incluir esses alunos é recebê-los com respeito e procurar ao máximo valorizar cada um deles, sendo de suma importância para sua formação enquanto individuo pensante e capaz de se desenvolver plenamente.
Durante as observações, os alunos da Escola Classe recebiam vários recursos para utilizarem durante as brincadeiras, favorecendo assim a interação dos surdos com os ouvintes. Já na Escola Parque os alunos não recebiam nenhum tipo de recurso pedagógico para auxiliar nas brincadeiras, pois os alunos que traziam de casa brinquedos, tinham que lanchar rapidamente para aproveitar o tempo brincando antes de voltarem para a sala de aula.
Dentro dessa perspectiva a inclusão desses alunos especiais no ensino regular, requer que as pessoas mudem e suas atitudes e a forma de ver as pessoas diferentes, verificando que não existe ninguém perfeito ou normal, e sim pessoas diferentes que precisam do carinho, compreensão e muito respeito.
REFERÊNCIAS

ABERASTURY, Arminda. A criança e seus jogos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992, p.55
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Rio de janeiro: DP&A, 2002.
BRASIL. MEC. SEE. Inclusão: Revista da Educação Especial/SEE, v.1, n.1 (out, 2006) Brasília: Secretaria de Educação Especial. Disponível em: http://portal.mec.gov.br. Acesso em 04/09/2009 às 17h00min.
BRASIL. MEC.SEE. LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br >>.  Acesso em 11/09/2009 às 09h02min.
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br>. Acesso em 11/09/2009 às 10h19min.
EDLER CARVALHO, Rosita. Integração e Inclusão: Do que estamos falando? In: SALTO PARA O FUTURO.Educação especial: tendências atuais. Brasília, MEC/SEED, 1999.
EDUCAÇÃO INFANTIL: Saberes e práticas da inclusão. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/>.  Acessado em 13/out/2009 às 09:50min.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 2003.
QUADROS, Ronice Muller. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
SACKS, Oliver. Vendo Vozes: uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de Janeiro: Imago, 1990.
SILVA, Daniele Nunes Henrique. Como brincam as crianças surdas. São Paulo: Plexus, 2002.
SPINELLI, Mauro. Foniatria: Introdução aos distúrbios da comunicação. São Paulo: Moraes. 1983.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade.  Imago, 1973.

Maria Mirtes de Sousa Silva: aluna do 7º. Semestre do curso de pedagogia da Faculdade Evangélica de Brasilia
Jose Francisco de Sousa: Pedagogo, Historiador, Teologo, Administrador, Especialista em Docência do Ensino Superior, Psicodrama, Pedagogia Hospitalar, Educação Ambiental,Mestre em Educação, Doutor em História (Unileon-Espanha),Doutorando em Psicologia pela PUC-GO

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